09 de April de 2018
O Mecanismo

Jornal ABC - 08/04, por JFBF

Longe de mim querer bancar o crítico de cinema ou criar ainda mais polêmica além de tudo o que já foi dito sobre a nova série do Netflix, O Mecanismo. Por tratar de um tema político atualmente em pauta que divide a Internet e os brasileiros, muitas pessoas estão encarando a série como um golpe político e cancelando a assinatura do serviço. Por outro lado, muitas pessoas alegam que a série, além de ser brasileira – o que devia nos orgulhar - está ajudando a organizar e entender um pouco os fatos históricos do nosso País, levando em conta que a história é baseada no Livro Lava Jato: o Juiz Sergio Moro e os bastidores da Operação que abalou o Brasil, do autor Valdimir Netto. 

Na minha opinião, bem-feita ou não, com erros de narração ou não, se foi lançada às pressas pelo ano eleitoral ou não e se retrata ou não em detalhes o que aconteceu na Operação Lava Jato, a série é inspirada em acontecimentos importantes do nosso Brasil e que impulsionaram o maior escândalo de corrupção de todos os tempos, fato esse que tem nos feito refletir sobre todo o sistema econômico do nosso País. Portanto, independentemente do partido político e de ideologia, todo o cidadão brasileiro deveria assistir, pois a essência da série, além da história em que se baseia, chama a atenção para o fator crítico de nossa sociedade que é o vício de corrução. O que me chama a atenção na história está muito bem desenhado no gráfico ilustrado pelo personagem do Selton Mello, o ex-delegado da PF Ruffo, na cena onde ele se dá conta ciclo de corrupção em que vivemos e diz mais ou menos assim: “O mecanismo tem o mesmo padrão dos fractais (um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente um processo recorrente ou repetitivo) é uma coisa infinita. É um modo de funcionamento que se auto-alimenta e que expele e cospe quem não faz parte. O mecanismo está em tudo, do Governo Federal ao sr. João encanador, no macro e no micro. É um padrão. O poder econômico e os agentes públicos agem juntos. Os políticos nomeiam as diretorias que dão as obras para os empreiteiros, sempre os mesmos. Eles superfaturam e devolvem o dinheiro, parte do orçamento para os políticos e para os diretores em forma de propina.” É um sistema que se autoperpetua – da estatal a empresa que presta serviços para a cidade, do político ao funcionário público que dificulta a prestação de serviços pelo município e indica uma solução rápida, porém paga, que cobra mais caro porque tem que pagar propina para o agente público que indica e com político que não libera a obra. “O mecanismo está em tudo. No flanelinha que recicla talão, na carteirinha falsificada para pagar meia entrada, no suborno para o guarda para aliviar a multa. Não tem ideologia nem partido, não existe esquerda ou direita, quem está no governo tem que botar a roda para girar, é um padrão. Isso elegeu todos os presidentes, todos! Quem não adere não vinga. Tudo, tudo, tudo é o mecanismo." Por fim, o ator principal da série fala algo importante para todos nós brasileiros: “O mecanismo é um câncer. É uma máquina de moer gente. Ele não tem alma, não tem limite.” E é isso, caros leitores, que assistimos todos os dias nos noticiários. Por isso, cabe a nós brasileiros, independentemente de partido ou ideologias, tomarmos conhecimento do funcionamento do nosso País e assumirmos a nossa responsabilidade nesse processo, para que um dia possamos mudar nosso comportamento e transformar tudo isso em uma história de superação.